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Há vida pós-Marta, Formiga e Cristiane na seleção feminina?

Publicado em 24/06/2019

Há vida pós-Marta, Formiga e Cristiane na seleção feminina?

“Não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Cristiane, e o futebol feminino depende de vocês para sobreviver”.

O recado de Marta após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo feminina contra a França emocionou até a própria jogadora enquanto falava. Ela já completou 33 anos de idade e pode estar dando seus últimos passos com a camisa amarela. Formiga, com 41, está perto da aposentadoria. Cristiane, com 34, já avisou que não disputa mais Mundiais.

De fato, o trabalho de renovação precisa ser feito. Do time titular contra a França, sete jogadores entraram em campo com 30 anos ou mais (Bárbara, Mônica, Tamires, Formiga, Thaisa, Marta e Cristiane). Só a zagueira Kathellen (23), a lateral-direita Letícia Santos (24) e as meias Debinha (27) e Ludmilla (24) são mais novas.

Mas, afinal, como está a renovação da seleção brasileira? Há vida pós-Marta, Formiga e Cristiane?

O momento é bom para o futebol feminino.

Demorou (muito), mas o Brasil finalmente começou a criar uma estrutura. A partir deste ano, todos os times masculinos são obrigados a ter também uma equipe para as mulheres. Isso, claro, fez o futebol feminino ganhar as grandes equipes brasileiras – e também as torcidas.

Pela primeira vez, o país tem duas divisões estruturadas.

Isso, claro, criou um calendário fixo para as jogadoras, que agora têm compromissos – e contratos – durante todo o ano.

A visibilidade também nunca foi tão grande. O campeonato nacional está na TV aberta, e a Copa do Mundo teve as maiores audiências da história. Inspiradas por Marta, várias meninas começaram a jogar futebol.

Mas Marta pode parar em breve. E o Brasil precisará achar uma forma de fazer o futebol feminino continuar tendo visibilidade sem ela.

“Ótimo o que o futebol feminino viveu, um ganho de atenção, credibilidade, a proporção que ganhou. Mas teve tudo isso também porque tinha a Marta. Seis vezes melhor do mundo, chama atenção, se ela abre a boca, alguém para e ouve. Porque ela ganhou o direito de ser ouvida. Sem ela, fica mais complicado”, analisa Mario Marra.

“A gente precisava aproveitar a Marta. Ela vai parar de jogar, mas o tamanho que ela tem, o símbolo que é essa mulher precisa ser aproveitado para fomentar o futebol feminino no Brasil”, complementa Maurício Barros.

E todo o movimento de estruturação foi só o primeiro passo. Afinal de contas, obrigar os clubes masculinos a terem times femininos não significa que ambos têm as mesmas condições. Pelo contrário! Várias equipes optaram por parcerias e não oferecem, por exemplo, os mesmos centros de treinamentos ou departamentos médicos ou a mesma preparação física para os homens e mulheres.

“Os clubes não têm departamento feminino, estão fazendo associações. Mas quais as condições dessas meninas? Como elas treinam? E as questões de nutrição, fisiologia, preparação física? Se você não der a mesma estrutura, esse problema vai persistir. No resto do mundo, a estrutura chega muito próxima ao masculino”, analisa Zé Elias.

Outro ponto é que o trabalho é a longo prazo. Os clubes também são obrigados a terem categorias de base, mas os frutos disso podem demorar. Ainda mais se as condições de treinamento e formação das atletas não evoluírem rapidamente – e aqui basta dizer que nem a base masculina costuma ter instalações parecidas com as do profissional.

Todas as mudanças nos clubes devem ajudar bastante se forem bem feitas. Mas não serão suficientes sem uma reorganização da própria CBF.

“A gente vive um momento importante dentro do país, dentro das obrigações, a formação dos times da base. Mas o que a CBF está fazendo com o futebol? Com a seleção? Com as categorias de base? Pouca coisa. Cadê as seleções sub-17, sub-20?”, questiona Juliana Cabral.

“A renovação tem que começar na estrutura do futebol feminino, na CBF. Quem cuida do departamento do futebol feminino conhece do futebol feminino? Gosta? Quem está na comissão conhece?”, complementa Renata Ruel.

Há vida pós-Marta, Formiga e Cristiane na seleção feminina?

O Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos tanto no Mundial sub-17 quanto no sub-20 no ano passado. As próximas competições da base acontecem em 2020.

E o problema é que a própria comissão técnica atual acha que ainda não é a hora de começar uma renovação.

“Ano que vem tem Olimpíadas. Só faltava eu chegar aqui falando que não quero Marta, Cristiane, Formiga... Temos que ir com a melhor equipe e lógico que vamos, colocando atletas que têm qualidade para jogar na seleção. A grande renovação que a Marta fala deve acontecer pós-Olimpíada”, disse o técnico Vadão.