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Milésimo gol de Pelé completa 50 anos

Publicado em 19/11/2019

Milésimo gol de Pelé completa 50 anos

Há exatos 50 anos, os torcedores que estavam no Maracanã (e espalhados pelo Brasil diante das telas de TV), testemunharam uma das marcas mais históricas de um acumulador de marcas históricas. Naquela noite, contra o Vasco, Pelé, o maior jogador de todos os tempos, marcava o seu milésimo gol como profissional. Viriam outros 281 até o final da carreira, em 1977, mas aquele, comemorado com um beijo na bola e uma posterior dedicatória “às crianças”, entrou para o rol dos momentos mais importantes da história do esporte.

Naquele 19 de novembro de 1969, centenas de torcedores começaram a se aglomerar na porta no hotel Novo Mundo, na praia do Flamengo, desde as primeiras horas da manhã. Era lá que Pelé estava hospedado com a delegação do Santos. O Rei concedeu entrevistas para jornalistas estrangeiros que vieram ao Brasil para acompanhar a façanha monstruosa. 

A expectativa era tanta que emissoras de TV fizeram a transmissão da partida mesmo diante de uma proibição imposta pela CBD, a Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF. Choveu muito no Rio naquela noite, mas a tempestade não impediu que 65.157 pessoas fossem ao Maracanã. O jogo foi uma festa do começo ao fim. Antes do apito inicial, um dos vestiários do Maracanã recebeu uma placa e o nome de Pelé, em homenagem ao golaço marcado pelo Rei contra o Fluminense em 1963 – o lance, inclusive, deu origem à expressão “gol de placa”. Uma das cabines de transmissão, aliás, também passou a ter o nome do craque.

O tão esperado gol demorou para sair e veio apenas no segundo tempo, mais precisamente às 23h17min. Pelé correu para receber passe em profundidade de Clodoaldo e foi derrubado dentro da área. Pênalti. Aos 34 minutos da etapa final, então, com um chute preciso no canto, Pelé venceu o goleiro Andrada e alcançou o milésimo gol.

Cercado por repórteres e fotógrafos, o craque buscou a bola nas redes. Beijou-a e depois, emocionado, desejou que todos pensassem nas crianças pobres. “Elas precisam ser protegidas. Pelo amor de Deus, não pensem só em festas. Pensem nas crianças”, pediu. O gol entrou para a história. O pedido ficou no tempo.

Destaque no Correio do Povo 

No dia 19 de novembro de 1969, as páginas esportivas do Correio do Povo já destacavam a grande expectativa que havia pelo histórico gol do maior jogador de todos os tempos. “Atração maior do Vasco-Santos será possível conquista do milésimo golo” era a manchete do jornal.

O texto destacava o fato de que, ainda que as duas equipes já estivessem eliminadas do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (que era a principal competição nacional da época), as atenções estavam muito menos no resultado em si e mais no que o camisa 10 do Santos poderia fazer.

A vitória do Santos por 2 a 1 diante do Vasco só foi garantida com o gol de Pelé, que demorou um bocado para sair, a dez minutos do final. Depois, restou a comemoração: “O craque de rutilante carreira, mundialmente respeitado por suas altas qualidades técnicas e de atleta-pessoa, foi erguido em triunfo e retirado de campo, seguindo-se uma série de homenagens à ‘Pérola Negra’, ficando o público alheio ao restante do embate”, escrevia o CP do dia 20.

Milésimo gol de Pelé completa 50 anos

O goleiro que virou agente secreto 

Antagonista no lance do milésimo gol na carreira de Pelé, o goleiro Andrada entrou para história ao não defender o pênalti cobrado pelo craque brasileiro. Mais tarde, longe dos campos, o jogador argentino envolveu-se de forma direta no período de ditadura do país vizinho, agindo de forma secreta como um dos agentes da inteligência do país.

Em 1981, ainda em atividade, o goleiro se tornou espião do Exército para o Serviço de Inteligência 121 de Rosario, sua cidade natal a 310 km de Buenos Aires, segundo revelou um arquivo confidencial tornado público em uma ação judicial. “Sua figura de goleiro do Rosario Central atrai adesões e confiança, especialmente nos bairros operários, o que facilita sua penetração para o objetivo traçado”, escreveram seus superiores à época. Apesar de denunciado em 2008, nunca chegou a virar réu. Andrada faleceu em setembro de 2019.