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Libertadores: Como São Paulo x River Plate será um 'choque de estilos' entre Diniz e Gallardo
Publicado em 17/09/2020

Duas das camisas mais pesadas do futebol sul-americano, São Paulo e River Plate estarão frente a frente nesta quinta-feira (17), a partir das 19h, em um dos confrontos mais aguardados da fase de grupos da Conmebol Libertadores. Além de opor dois dos times mais vitoriosos da história da competição, o duelo também colocará em "rota de colisão" dois estilos diferentes de jogo.
Enquanto o argentino de 44 anos chega ao Brasil como um dos principais treinadores da América do Sul na atualidade, tendo conquistado duas vezes a Libertadores com o River Plate, além de ser o atual vice-campeão, o brasileiro, dois anos mais velho, busca o primeiro título na elite do futebol, encarando pela primeira vez a missão de comandar um time que já conquistou a América.
Em entrevista, o português Pedro Bouças, analista que compõe a comissão do técnico Jesualdo Ferreira e que esteve no Brasil até o início do último mês de agosto, respondeu duas perguntas diretas que apontam diferenças entre as filosofias de jogo que estarão frente a frente no Estádio do Morumbi.
"Cada vez mais acredito que esse estilo de jogo, de futebol ofensivo, que procura se assemelhar com aquele que faz o Pep Guardiola na Europa, tem muitas coisas boas, muitas vantagens. Mas também tem uma questão: o elenco precisa ser mesmo muito capacitado. Você quer fazer gols com um tipo de futebol que remete seu adversário todo para sua linha defensiva. Para a equipe do São Paulo fazer o gol não é fácil. Por controlar tanto o jogo com a bola e encostar o adversário lá atrás, acaba atacando sempre contra 11 jogadores atrás da linha da bola", disse Pedro Bouças.
"Nos dias de hoje, e isso não sou em quem está dizendo, mas os estudos que comprovam, a maior parte dos gols surge nos primeiros seis, sete ou oito segundos após você roubar a bola do adversário. Ou seja: são marcados mais gols no momento em que você tem suas linhas mais baixas, rouba a bola e acelera o contra-ataque à procura do gol. E porquê? Os adversários não têm 11 jogadores atrás da linha da bola. Estão abertos no campo, numa postura ofensiva. Quando perdem a bola, você consegue atacar só contra três ou quatro", completou.
"O São Paulo tenta ter um jogo dominante, que encosta tanto o rival atrás, então acaba se beneficiando de poucos ataques contra quatro ou cinco jogadores atrás da linha da bola. Logo, para o São Paulo está mais difícil marcar gols do que para as equipes adversárias".
"Esse é o problema de se tentar recriar aquilo que o Barcelona do Guardiola fazia. O Barcelona tinha Messi, Xavi e Iniesta. Para eles, atacar contra 11 é o mesmo que para os outros atacarem contra dois ou três. Eles têm a mesma eficiência. O São Paulo ou qualquer outra equipe que se disponha a encostar os adversários atrás e controlar o jogo totalmente com a bola terá essa dificuldade. Vai ter menos contra-ataques, vai ter menos oportunidades para atacar contra menos gente. E isso é uma dificuldade".
"Agora, para não parecer que estou apenas criticando, também há vantagens. Se você encosta o adversário atrás, quando perde a bola, é mais fácil defender, já que o seu adversário vai ter que fazer os 70 metros para fazer o gol. Portando há coisas bolas e ruins, e todos os estilos podem ser validos e trazer resultados", analisou o analista.
Gallardo está pronto para o futebol europeu?
"Não sei se é o treinador mais pronto para o mercado europeu. Ele tem méritos incríveis, uma forma de jogar diferente daquilo que é o mais comum. Por outro lado, e sendo concreto, ele tem no seu método defensivo o hábito dos encaixes individuais. Cada jogador agarra seu adversário direto e vai com ele para todo lado. E isso não é garantia obrigatória de sucesso", avaliou Pedro Bouças.
"Ou seja: se chega em um elenco onde características dos jogadores não sejam tão guerreiras, tão resistentes fisicamente, não estejam tão predispostos para esse trabalho, ele vai ter dificuldades, e talvez não terá o mesmo sucesso na Europa que tem numa equipe que está completamente montada em função da visão que tem do jogo. Isso não significa que não terá sucesso. Depende do estilo dos jogadores que encontrará na Europa".
"O trabalho que tem no River é muito bom, mas honestamente tenho dúvidas de que pode dar resultado em qualquer time europeu. Temos a Atalanta, que é uma surpresa na Europa, e que tem alguns traços parecidos com aquilo que faz o River. Não estou dizendo que esse jogo não cabe na Europa. Cabe, mas em casos concretos", opinou.
"Falou-se por exemplo no Gallardo no Barcelona. Acho que naquele tipo de jogo não encaixaria. Chegaria no Barcelona e iria pedir ao Messi, Griezmann, ao Suárez para correr atrás dos defensores o tempo todo. Eles não iriam fazer isso, e as coisas já não iriam correr tão bem. Acho que ele tem muito mérito no trabalho que fez. Agora, não sei se ele chegando em outro contexto iria querer reproduzir as ideias e a forma como joga no River ou se está preparado para mudar. É um pouco imprevisível".
"E o fato de ele estar há muito tempo no River jogando da mesma maneira, que é uma maneira que tem sucesso, e, portanto, não faz sentido mudar, mas me deixa dúvidas se, ele tendo que mudar, estará preparado para fazer ou não. Agora, o que ele está fazendo é muito bom e tem muito mérito e revela inteligência. Mas não significa necessariamente que em outra realidade terá um bom produto final também", disse Bouças.
Com uma vitória e uma derrota, São Paulo e River Plate estão empatados na chave, ambos com três pontos – os argentinos levam vantagem pelo melhor saldo de gols. A líder é a LDU, de Quito, que venceu os peruanos do Binacional na última terça-feira (15), pressionando os dois gigantes na chave.