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Quantas vidas o esporte pode transformar?

Publicado em 01/08/2019

Quantas vidas o esporte pode transformar?

Em 1996, a catarinense Ana Moser era a capitã da Seleção Brasileira de vôlei, e ajudou a equipe feminina a conquistar sua primeira medalha olímpica, uma importante etapa em uma carreira recheada de sucessos. Os problemas no joelho limitaram seus anos nas quadras, mas não o impacto que ela tem no esporte. Em 2001, ela decidiu criar o Instituto Esporte & Educação (IEE), e hoje leva atividades físicas a comunidades carentes de todo o Brasil.

“Sempre tive consciência da importância do esporte”, ela conta. “Depois, me juntei com pessoas que pensavam de forma parecida e criamos esse projeto pensando em tornar o esporte mais acessível”.

Para isso, Ana sabia que teria de estar nos locais mais necessitados. O início do IEE foi em Heliópolis, a maior favela de São Paulo. Dezoito anos depois, o projeto já alcançou 3,1 milhões de crianças espalhadas por quase 300 cidades. Desenvolvendo diferentes atividades, de centros esportivos permanentes a eventos temporários, o instituto já organizou 464 mil projetos de esporte e cultura.

Ana explica que o trabalho do IEE é guiado por pilares como inclusão social e diversidade. Todos são incentivados a praticar esportes, independentemente de condições físicas, gênero, renda ou idade. Por isso, o IEE tem um leque de atividades que abrange desde para aulas para crianças a partir de quatro anos até ginástica para adultos. O instituto também valoriza a coletividade, a autonomia dos alunos e fortalece a educação integral, oferecendo cursos culturais além das aulas esportivas, tudo isso no contraturno das escolas.

Ana conta que a metodologia inovadora foi desenvolvida a partir das experiências dos profissionais envolvidos e do contato com os alunos. “Na prática, vimos que precisamos organizar o esporte dentro da realidade da criança. Precisávamos incluir vários outros aspectos de relacionamento, de envolvimento, de questões que as crianças enfrentavam no seu dia a dia. Assim, fomos ampliando a metodologia que trabalha a questão motora, cognitiva e de relacionamento interpessoal e fortalecimento comunitário.”

A ideia deu certo e hoje o instituto conta com 20 núcleos, que atendem entre 6.000 e 7.000 alunos semanalmente. No núcleo de Maresias, por exemplo, os alunos podem jogar futebol, vôlei e até surfar. Além disso, o IEE coordena 10 projetos diferentes, como o Projeto Jogadeira que transforma as ruas em espaços esportivos para a criançada.

Ana também queria formar professores para que o ensino do esporte pudesse ser replicado por todo o país. Por isso, o IEE também oferece cursos de pedagogia esportiva, formando uma média de 4.000 professores a cada ano.

Mas o caminho até aqui não foi nada fácil. Ana lembra que, em 2001, não existia um setor de esporte educacional e poucas ONGs eram voltadas a isso. Com pouca estrutura, ela teve dificuldades em chamar atenção para a causa. Foi com o apoio de grandes empresas, como a BV, que o IEE conseguiu deslanchar e atingir todo o seu potencial.

Além do apoio financeiro, a BV também ajuda o instituto a desenvolver mecanismos autossustentáveis, como providenciar aulas pagas para alunos que tenham melhores condições financeiras. A ideia é que os recursos arrecadados nessas aulas sejam redistribuídos para comunidades mais carentes.

“O grande foco agora é fazer com que os projetos gerem recursos para o instituto. A BV tem nos ajudado a desenvolver essas novas iniciativas”, diz Ana.

A ex-capitã continua transformando sua grande visão em realidade, fazendo com que a cultura esportiva seja mais acessível para as crianças brasileiras. Apesar de não ter sido fácil, Ana encoraja outras pessoas a se engajar. “Meu primeiro conselho é conhecer o contexto. Muitas vezes não é necessário abrir algo novo, mas trazer [uma novidade] para alguma coisa que já existe”, ela conta. “Começar pequeno, mas pensar grande. Se pensarmos só no grande objetivo, não conseguimos dar o primeiro passo. É bem parecido com o mundo do esporte: você tem como objetivo o campeonato no final do ano, mas até chegar lá você tem que botar um tijolinho por vez.”